
Semana violenta: Feminicídios põem fim a quatro vidas em uma semana em SC

Quatro mulheres mortas por serem mulheres em menos de uma semana. Esse é o cenário de violência que Santa Catarina presenciou entre a última terça-feira (29) e este sábado (2), quando Rosemary Martins, Tatiane Kurth Cipriani, Sandra Raquel Nolli, e uma mãe, ainda não identificada, foram mortas vítimas de feminicídio. Para especialistas, a sequência em série de assassinatos em razão de gênero expõe a falta de políticas públicas para prevenir casos de violência doméstica no Estado.
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De acordo com a advogada Tammy Fortunato, presidente da Comissão Nacional de Combate à Violência Doméstica da OAB Nacional, os assassinatos de mulheres em razão de gênero dos últimos dias devem levar o olhar para o alto número de tentativas de feminicídio em Santa Catarina. Somente em 2024, de acordo com o Anuário de Segurança Pública de 2025, o Estado registrou 196 crimes deste tipo.
— O que estamos vivenciando é a consumação dessas tentativas. É preciso combater a violência doméstica como um todo e os números mostram que, embora os dados do feminicídio consumado tenham diminuído, os de violência contra a mulher ainda crescem. Hoje, o crime de feminicídio possui a maior pena do código penal (40 anos) e isso não intimida os autores do crime — enfatiza a advogada.
Até junho de 2025, 87 mulheres quase perderam a vida em razão de gênero em Santa Catarina, sendo que 53% dos casos foram registrados durante os finais de semana e feriados. Os dados foram enviados à NSC pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) através da Lei de Acesso à Informação (LAI). A maioria das ocorrências (53%) aconteceu nos finais de semana ou feriados. Para a especialista, a palavra é prevenção.
— Inserindo de modo enfático a temática nas escolas para que haja uma mudança cultural; fomentar palestras em empresas públicas e privadas informando sobre violência doméstica. Os agressores não pensam nas consequências do cometimento do crime, que a pena é a maior do Código Penal e contam, inclusive com a impunidade.
Fortalezer as políticas públicas de prevenção também que Anne Teive Auras, defensora pública de Santa Catarina e coordenadora do Observatório da Violência Contra a Mulher (OVM), acredita. Para a especialista, os números dos últimos dias no Estado confirmam uma tendência de aumento de feminicídios verificada a nível nacional e demonstrada pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2025.
Segundo o Anuário, 51 mulheres foram assassinadas por serem mulheres em 2024. O levantamento indica uma taxa de 1,3 feminicídio a cada 100 mil habitantes em 2024, próximo à taxa nacional, que é de 1,4. Conforme a defensora pública, o ciclo de violência contra as mulheres poderia ser rompido caso as vítimas fossem devidamente amparadas pela rede pública, com a devida assistência jurídica, socioassistencial e em saúde.
— Os serviços de atendimento à mulher em situação de violência ainda não funcionam como uma rede efetivamente integrada, com estruturação, especialização e capacitação adequadas. Um exemplo é a assistência jurídica gratuita pela Defensoria Pública, direito de toda mulher em situação de violência, e que ainda não é assegurada em todas as cidades catarinenses.
No que toca à responsabilização do autor da violência, a especialista acredita ser fundamental que os grupos reflexivos para homens se tornem uma política pública em todas as cidades catarinenses, com orçamento e capacitação, porque são iniciativas comprovadamente eficazes na redução da reincidência.
Quatro feminicídios em menos de uma semana
O crime mais recente foi registrado neste sábado, quando um filho matou a mãe a facadas enquanto ela dormia em Florianópolis. Conforme os investigadores, o suspeito, de 24 anos, foi o responsável por ligar para a Polícia Militar e informar que tinha cometido o assassinato. Ele foi preso. A vítima, de 61 anos e natural do Rio Grande do Sul, ainda não foi identificada oficialmente. O caso segue com a Polícia Civil.
Na quinta-feira (31), outro crime brutal envolvendo morte de mulheres em razão de gênero foi registrado. Sandra Raquel Nolli, 51 anos, foi morta com um tiro disparado pelo ex-companheiro em Rio do Sul, no Vale do Itajaí. O assassino, de 68 anos, fugiu logo após o feminicídio, porém acabou preso horas mais tarde, já em Pato Branco, no Paraná.
Um dia antes do feminicídio de Sandra, a cerca de 60 quilômetros de distância, outro feminicídio. Tatiane foi morta no amanhecer de quarta-feira (30) dentro de casa, em Rodeio. Foi esfaqueada pelo marido, que enviou uma foto da vítima sem vida para o irmão dela. Quando a polícia chegou à residência, percebeu que o homem tinha atirado contra si. Djeison Henrique Cipriani Bonacolsi, 26 anos, morreu no hospital.
A polícia não esclareceu o que ocorreu nos momentos que antecederam o assassinato, mas os celulares dos dois foram recolhidos para perícia. Eles eram casados desde 2021 e não tinham filhos.
Na terça-feira (29), veio à tona outro feminicídio. Rosemary foi encontrada sem vida no sofá de casa, em Penha. A mulher morreu a facadas. Os golpes foram desferidos pelo companheiro dela. Segundo a polícia, tudo indica que o assassinato ocorreu no domingo (27), data em que a vítima mandou mensagem à filha contando ter descoberto uma traição do marido e dizendo que a relação estava acabada.
A PM acredita que o assassino não aceitava o fim da união e cometeu o crime. Ele fugiu do local, mas foi preso em São José, na Grande Florianópolis, no mesmo dia que o feminicídio foi descoberto. Segundo a Polícia Civil, no interrogatório, o criminoso alegou que Rosemary o atacou e ele a golpeou para se defender. Para as autoridades, o cenário descrito é pouco provável.
Isso porque Reni Dirceu Ribeiro, de 56 anos, tem histórico de violência doméstica contra três ex-companheiras, inclusive com ameaças utilizando faca, aponta a polícia. A pena para o crime de feminicídio é de 20 a 40 anos de prisão.
Fonte: NSC


